quarta-feira, 26 de junho de 2013

O Som e o Rádio na “ditadura do olho”



Ao tratar da relação música x poesia, o documentário “Palavra(En)Cantada”, de 2008, defende a ideia de que a letra é quase morta quando lida. Quando cantada, entretanto, ganha força vital, ganha vida, e encanta.
Talvez seja esta a maior qualidade do rádio: a possibilidade de encantar através das notícias, que com a voz são declamadas.
É só lembrar, por exemplo, da emoção das antigas coberturas noticiosas de um jogo de futebol, feitas pelo rádio. (A TV herdou isso dele).
Mesmo assim, há rumores de que, frente às novas mídias, o rádio perderá espaço e, aos poucos, até desaparecerá. É pessimismo, eu sei.
Disseram que os jornais impressos desapareceriam quando surgiu o rádio. Vejam só!
Disseram também que o rádio desapareceria quando surgiu a TV. E olhe aí!
E agora dizem que tudo desaparecerá por causa da internet...
Além de pessimismo, isso é um pensamento ingrato. Visto que o rádio chegou a quase os últimos confins desse Brasil continental, acompanhou mudanças históricas, lançou moda e promoveu cultura, ora comercialmente, ora ideologicamente.
Além de estar vivo, o rádio, enfim, tem a importância de ser um documento histórico.
Como diz Tom Zé, vivemos na “ditadura do olho” em detrimento do ouvido.
Mas o que seria da ditadura militar, por exemplo, se não fosse a resistência quase heroica, para não dizer poética, da MPB universitária, que foi difundida pelas emissoras de rádio?
Sendo assim, ganhará cada vez mais importância se tiver força para vencer essa ditadura do olho, voltando-se para a sua essência (Sem que, para isso, perca mercado ou selecione público).
O desafio é ter qualidade funcional, poética e informativa através daquilo que sempre existiu e é a sua matéria-prima: o som.

(E, para não esquecer, teve uma época em que o Tom Zé parecia muito com o Raul Seixas).

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